Se em algumas culturas o prazer das mulheres é deixado em segundo plano, para o povo de Ruanda, país na África Central, a história é bem diferente. Fazer as mulheres chegarem ao ápice é considerada uma obrigação e é questão de honra. Pra eles, há algo divino na ejaculação feminina e se o homem não deixar que essa "água" brote, ele vai se sentir frustrado e a mulher ofendida. Não é à toa que é lá o local de nascimento da técnica sexual que é o tema do nosso papo de hoje: o Kunyaza.
Por que as mulheres são tão importantes em Ruanda?
Antes da gente começar a falar sobre a técnica, é importante entender um pouco do contexto histórico e da razão pela qual, diferente da maioria dos outros países do mundo, as mulheres são tão importantes e tão respeitadas em Ruanda, inclusive pra além da questão sexual.
No ano de 1994 Ruanda foi palco de um genocídio, resultado da guerra entre os grupos étnicos Hutu e Tutsi onde 800 mil pessoas foram mortas em 100 dias e 500 mil mulheres denunciaram ter sido vítimas de estupro na época do conflito. Hoje, com seus 13 milhões de habitantes, o pequeno país se tornou um representante da equidade de gênero e liderança feminina, por alguns motivos.
O primeiro motivo: Ruanda é o país com a maior representação política feminina.
Em 2003, como parte da recuperação do país pós genocídio e do projeto de extensão do papel das mulheres em todas as esferas da vida pública, a Nova constituição de Ruanda estabeleceu uma cota obrigatória para mulheres de 30% em todos os "órgãos de decisão" e essa inclusão se torna mais notável a cada eleição. Em 2013 o país ganhou o prêmio internacional "Women in National Parliament" por seu trabalho inspirador em promover empoderamento político das mulheres.
Pra você ter uma noção comparativa, a última atualização do site Woman in national Parliaments aconteceu em de 2019 e Ruanda continua em primeiro lugar na lista, enquanto o Brasil está na posição 132.
O segundo motivo: Ruanda é um país que dialoga sobre a importância do prazer feminino.
"Unter fremdem Decken Ruanda", de tradução literal para "Sob estranhos cobertores de Ruanda", é um documentário alemão de 2014, que busca encontrar o melhor sexo do mundo. Um dos episódios, que é sobre o país africano, constatou que as mulheres de Ruanda são as mais satisfeitas sexualmente do mundo.
Pra ter uma noção comparativa, mais uma vez, o documentário listou alguns países: Japão 11%, Alemanha 33%, Brasil 44%, Espanha 52% e Ruanda com 80% da população feminina afirmando que regularmente experimentam orgasmos. Deu invejinha por aí? Por aqui, sim.
Reza a lenda…
Agora que você já entendeu um pouco melhor sobre as razões pelas quais a mulher é tão respeitada em Ruanda, é hora de entender mais sobre a história do Kunyaza. E, assim como boa parte das melhores histórias, a origem do Kunyaza é relativamente incerta e rodeada de lendas.
Antes de explicar sobre a primeira lenda que origina o Kunyaza, uma explicação: na língua Rundi, kunyaza significa, literalmente, liberar líquido. Faz referência a uma prática que se originou na região dos grandes lagos do leste africano, mais especificamente o lago Kivu, que é o maior lago de Ruanda e um dos maiores lagoa do continente africano.
Bem, agora sim. Vamos pra primeira versão da história do Kunyaza: ela se passa na terceira dinastia da monarquia de Ruanda, quando a rainha estava sexualmente insatisfeita, pois o rei estava em uma campanha militar. A rainha convocou, então, um guarda chamado Kamagere, pra fazer amor com ela ou ela enlouqueceria. O guarda no primeiro momento recusou o convite e só aceitou depois que a rainha ordenou sua morte, caso ele não obedecesse.
Kamagere ficou tão ansioso e trêmulo que, durante o encontro amoroso com a rainha, começou a bater com seu pênis no clitóris da rainha. Ela sentiu um prazer nunca experimentado nem com o rei. O ato fez com que ela liberasse uma grande quantidade de líquido através da vulva. Quando o rei voltou, a rainha instruiu o rei sobre a técnica. Sábia rainha, não é mesmo?
Mas existe também uma outra versão sobre o surgimento da técnica, que também se deu quando o rei foi para guerra. Com o rei distante, a rainha precisava se satisfazer sozinha e, então, começou a se tocar a ponto do líquido ser liberado pela vulva. Quando o rei retornou foi instruído pela rainha de que a penetração não era a única coisa que ela queria. Acho que prefiro essa versão da história, e você?
Independente da lenda certa, o final é o mesmo: contam que o fluido liberado pela rainha foi o que deu início ao lago Kivu, chamado de fonte da vida. O líquido liberado pela rainha foi chamado de kunyara e a técnica de batidas foi chamada de Kunyaza.
E como se pratica o Kunyaza?
Pontos de vista históricos entendidos, agora é hora de compreender como funciona a prática. Bora? E, pra isso, tomei a liberdade de pedir ajuda pro documentário "Sacred Water", de 2016, que conta a história do Kunyaza e do povo de Ruanda. O documentário pode ser encontrado online e vale muito a pena assistir, ok?!
Bem, de acordo com os entrevistados ruandeses do documentário, tudo começa com as preliminares: vocês conversam, se acariciam, se sentem à vontade, sem ter pressa. No Kunyaza, a mulher precisa estar bem lubrificada, seja naturalmente ou com ajuda de saliva, óleos etc. O homem segura o pênis ereto e se dedica aos estímulos externos usando apenas a cabeça do pênis: dá leves batidinhas por toda a vulva, massageia os lábios vaginais, o clitóris e o períneo de diferentes formas – círculos, zigue-zague, de cima para baixo. Agora, se o homem faz movimentos monótonos de vai e vem, ela não vai sentir tanto prazer. Ou seja, nada de monotonia MESMO. Entendeu?!
Só depois disso tudo é que se parte pra estimulação interna, no caso, a penetração. Diz a técnica que o homem deve penetrar lentamente e, ainda segurando o pênis com as mãos, alternar os movimentos dentro do canal vaginal. No primeiro terço da vagina (em média a 3 cm de profundidade), as paredes são mais sensíveis. Ali vale friccionar bem a glande em vários sentidos e ritmos. A intensidade do vai e vem aumenta à medida que ela fica excitada ou pede.
É garantido que seguindo essa técnica o resultado seja a "água sagrada" jorrando? Talvez não. Ou talvez não da primeira vez. Mas o importante é sentir prazer e experimentar, não é mesmo? Então experimenta aí e depois me conta se deu certo. Vou experimentar aqui também, com certeza.
Beijos,
Bianca Mel