Tentar definir o amor e a paixão pode ser um desafio, algo que muitos poetas, filósofos, compositores e escritores já tentaram fazer. No entanto, compreender o significado da paixão a partir de uma perspectiva fisiológica é mais tangível, uma vez que cada pessoa experimenta a paixão de forma única e individual
Sob essa ótica fisiológica, o amor e a paixão se traduzem em uma complexa interação de processos químicos que desencadeiam reações notáveis em nosso sistema nervoso e em nossos hormônios. Sensações de euforia, associadas a substâncias químicas naturais como a dopamina, ocitocina e adrenalina, podem fazer com que a paixão se assemelhe aos efeitos de uma droga.
Nesse sentido, é possível comparar o amor e a paixão a substâncias intoxicantes e viciantes. Eles também têm a capacidade de alterar nossas sensações, estados de consciência e o funcionamento do nosso corpo e mente. Calor, suor, pupilas dilatadas, bochechas coradas e batimentos cardíacos acelerados são alguns dos sintomas que a paixão pode provocar. Vem comigo pra explorar esses aspectos mais a fundo e entender melhor esse fenômeno!
A paixão gera dependência
O amor e a paixão estimulam muitas áreas diferentes do cérebro, mas um destaque importante é o chamado circuito de recompensa. Nesse contexto, o núcleo accumbens, localizado a alguns centímetros atrás dos olhos, ganha destaque, pois é altamente sensível à dopamina, um neurotransmissor cuja concentração aumenta significativamente durante a paixão. Esse núcleo é conhecido como o centro do prazer.
O núcleo accumbens é ativado quando experimentamos uma recompensa, como receber um prêmio ou satisfazer nossa sede com água. Além disso, ele também é ativado quando usamos drogas. Portanto, as fases iniciais do amor são caracterizadas por um aumento substancial nos níveis de dopamina.
Larry Young, um pesquisador de neurociência do comportamento da Universidade de Emory em Atlanta e autor do livro "Química entre nós: Amor, Sexo e a Ciência da Atração", observou em suas pesquisas que "os ratos que perdem seus parceiros experimentam um tipo de depressão muito semelhante ao que ocorre quando se retira a cocaína ou a heroína de um viciado".
Além disso, o aumento da dopamina é acompanhado pela redução da serotonina em nosso cérebro, uma situação que também ocorre em transtornos obsessivos e que apresenta semelhanças com os estágios iniciais da paixão. Portanto, embora a paixão não seja uma condição patológica e faz parte de uma vida normal, ela pode parecer assim do ponto de vista cerebral.
A paixão reflete conexões familiares
Agora, considerando a biologia e a química por trás do amor, notamos que a oxitocina e a vasopressina são dois pequenos hormônios cujos níveis atingem o pico em momentos aparentemente distantes da paixão, como no parto e durante a amamentação. Entre suas diversas funções, esses hormônios desempenham um papel crucial no fortalecimento do vínculo entre mãe e filho.
Essa mesma oxitocina e vasopressina contribuem para o fortalecimento dos laços amorosos. Esse fenômeno faz sentido do ponto de vista evolutivo, uma vez que encontrar um parceiro ideal é um empreendimento que requer tempo e energia significativos. Uma vez que o parceiro ideal é encontrado, é crucial reforçar o vínculo para garantir que ambos cuidarão de uma possível descendência. Portanto, nossa natureza biológica parece favorecer essa conexão amorosa.
A paixão ofusca o julgamento e a razão
Para identificar quais áreas do cérebro são ativadas durante a paixão, os cientistas frequentemente recorrem à ressonância magnética funcional. Essa técnica revela a demanda de oxigênio em diferentes partes do cérebro, indicando as áreas mais ativas durante uma determinada atividade.
Várias pesquisas convergiram para uma conclusão semelhante: durante a paixão, o circuito de recompensa opera com grande intensidade, enquanto o córtex pré-frontal parece desligar. O córtex pré-frontal é a região do cérebro responsável pela nossa capacidade de raciocínio e tomada de decisões ponderadas.
O que isso significa é que o amor tende a obscurecer nossa capacidade de análise crítica, pelo menos no que diz respeito à pessoa amada. Isso explica o ditado popular "o amor é cego", já que ele pode nos tornar parcialmente cegos para julgar nossas próprias decisões. No entanto, o amor também nos torna muito mais inclinados a seguir uma razão específica: a perspectiva de união. Friedrich Nietzsche resumiu isso ao afirmar que "há sempre um pouco de loucura no amor, mas há sempre um pouco de razão na loucura".
A paixão nos torna monogâmicos... ou não
Até hoje, a ciência não conseguiu determinar se os seres humanos são naturalmente monogâmicos ou poligâmicos, mas identificou alguns fatores que influenciam nossos padrões de relacionamento. Isso foi observado em estudos com ratos.
Por exemplo, ratos do campo são monogâmicos por natureza e tendem a ser fiéis aos seus parceiros. Por outro lado, ratos da montanha não se limitam a um único parceiro.
A diferença está nos níveis de oxitocina e vasopressina nas áreas de recompensa de seus cérebros. Os ratos do campo têm muito mais receptores desses hormônios do que os ratos da montanha, o que, comprovadamente, os torna monogâmicos. Essa conclusão é respaldada por experimentos em que esses hormônios foram bloqueados em laboratório, fazendo com que os ratos do campo agissem como os ratos da montanha, sem qualquer memória ou preferência por um parceiro específico.
E aí, você se identifica mais com os ratos do campo ou os da montanha?
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Bem… Acho que a gente pode concluir que a ciência oferece
insights valiosos sobre os mecanismos por trás do amor e da paixão, mas não é capaz de capturar completamente sua magia. Não é mesmo?! Como o neurocientista Larry Young disse, "a ciência pode nos dizer muitas coisas sobre a química e os processos cerebrais envolvidos no amor, mas não pode nos fazer compreender sua magia, que só pode ser verdadeiramente entendida quando estamos apaixonados".
Assim, talvez seja melhor unir conhecimento científico e emoções para uma compreensão mais completa desse fenômeno que é estar apaixonado. Afinal, como Larry Young também sugere, a essência do amor pode ser melhor compreendida através da poesia, da música e da arte, mas a ciência pode contribuir para esclarecer parte de seu mistério. Portanto, por que não combinar ambos para uma compreensão mais enriquecedora do amor?
Beijos e até a próxima,
Bianca Mel