Você, pessoa sexualmente ativa, seja ativo sozinho ou com um parceiro ou parceira, responda a esta pergunta: estímulos visuais têm influência no seu tesão? É muito provável que sua resposta seja sim. A maioria das pessoas é bastante influenciada por esses estímulos, sejam eles ao vivo, como por exemplo ver seu parceiro ou parceira com uma roupa íntima ou fantasia sensual, ou "gravados", como um vídeo ou foto. Não é à toa que as "nudes" enviadas nas redes sociais fazem tanto sucesso, não é mesmo? Risos.
E tem muita gente que pensa que são apenas os homens que gostam desse tipo de estímulo. Afinal, esse tipo de conteúdo é muito mais difundido para eles do que para elas. Mas será que é assim mesmo que a banda toca? Será que os homens sentem mais tesão por estímulos visuais do que as mulheres? É sobre esse assunto que vou falar hoje aqui no blog. Se interessou? Então vem comigo!
Só os homens gostam de olhar?
Se você é um homem, ou já conviveu ou se relacionou com um, você sabe que é muito comum a necessidade deles por estímulos visuais para alimentar e aumentar o tesão. E esse estímulo vai desde o vídeo pornô, acessado em sites específicos pra esse tipo de conteúdo, até o desejo por enxergar o parceiro ou parceira com uma lingerie ou roupa íntima sensual, passando, também, pelos conhecidos pedidos por nudes e fotos sensuais.
Mas será que esse desejo é exclusivo dos homens? Será que eles realmente sentem essa vontade tão mais forte do que as mulheres? Aí entram algumas questões, tanto biológicas quanto sociais. Vou começar pelas biológicas. E já começo anunciando que a resposta é negativa. Não, os homens não sentem mais desejo por estímulos visuais do que as mulheres.
Um estudo feito na Alemanha, pelo Instituto Max Planck de Cibernética Biológica, localizado em Tübingen, analisou dados de 61 pesquisas feitas em diversos laboratórios do país, com um total de 1850 indivíduos analisados, de diferentes orientações sexuais e nacionalidades, e constatou que não existe nenhuma diferença neurobiológica no grau de excitação sentido por homens e mulheres diante de imagens eróticas.
Os estudos analisados mediam o que eles chamavam de "reação espontânea e incontrolável" das pessoas testadas diante de fotos e vídeos eróticos através de imagens de ressonância magnética funcional. Esse método quantifica a atividade cerebral pelo consumo de oxigênio nas diferentes regiões do cérebro. A partir das respostas dos testes, os cientistas constataram que a quantidade de atividade era a mesma, ou muito semelhante, na maioria dos indivíduos testados, sem diferenças entre gêneros.
De acordo com o instituto alemão - e agora entrando na questão sociológica do assunto - as diferenças na conduta de homens e mulheres com relação aos estímulos visuais acontecem muito mais por influências sociais do que pela biologia do corpo em si. Influências como a família, amizades, tabus sexuais existentes em muitas culturas e até mesmo legislações de certos países mais conservadores acabam contribuindo para alienar as mulheres de seus desejos sexuais e, assim, fazem parecer que os homens são os únicos, ou a maioria, que se interessam pelos estímulos visuais na hora do prazer.
Esse estudo é muito importante justamente porque contribui para essa quebra de tabus. Uma vez que as pessoas saibam que, biologicamente, somos todos iguais, é um primeiro passo em direção a um novo olhar com relação à libertação do prazer feminino. "O reconhecimento de que nos comportamos da mesma forma no que se refere à excitação pode ajudar a quebrar tabus e clichês", disse o instituto.
O estímulo visual e as mulheres
Já comentei em alguns posts aqui do blog sobre o quanto a repressão ao prazer feminino influencia na libertação da mulher na sociedade, e esse papo todo de hoje é justamente sobre isso. Ainda que biologicamente sejamos iguais, a sociedade tem a maior influência sobre os desejos sexuais das mulheres e ainda causa o maior impacto. Não é que as mulheres não sintam desejo sexual, ou não sintam vontade de assistir a um vídeo erótico, ou receber um nude. O que acontece é que a sociedade nunca as incentivou a isso, pelo contrário, sempre reprimiu.
Enquanto os homens são incentivados desde pequenos a conhecer o próprio corpo, a explorar sua sexualidade através da masturbação, as mulheres são desencorajadas, criticadas e reprimidas. A masturbação feminina raramente é discutida, o prazer feminino idem. Meninos na puberdade costumam receber comentários como "esse é meu garoto", quando tem a primeira relação sexual, recebem também conselhos dos pais, ensinamentos sobre como usar camisinha e como praticar o sexo. Enquanto isso, as meninas ouvem coisas como "namorar só depois dos 18" e a educação sexual, ou o incentivo sobre o autoconhecimento sexual é quase inexistente.
Mas como mudar essa situação? Parece quase impossível, não é mesmo? E realmente é muito difícil. Mas a quebra de tabus tão fortes, tão antigos na sociedade acontece aos poucos. Se você tem um filho ou uma filha, converse sobre esse tipo de assunto com eles. Incentive o autoconhecimento e dê informações sobre educação sexual. Se você não tem filhos, pode fazer pequenas mudanças nas suas relações. Como, por exemplo, conversar com seu parceiro ou parceira sobre os estímulos visuais que te causam prazer. No fim das contas, tudo se resume a informação e a uma boa comunicação, com respeito e cuidado.
Estímulos visuais e a indústria da pornografia
Também não é de agora que falo aqui no blog sobre a indústria da pornografia e, no texto de hoje, esse assunto é cem por cento pertinente. Fica muito claro, ao acessarmos um site pornô, o tipo de relação que a nossa sociedade tem com a noção de que estímulos visuais são de interesse quase exclusivo do público masculino. Basta perceber que a maioria do conteúdo desses sites foi produzido para homens, sejam eles héteros ou gays. Até mesmo os conteúdos lésbicos existentes em sites pornôs são, em boa parte das vezes, criados não para mulheres lésbicas, mas para homens héteros assistirem.
E todo esse foco da indústria pornô no homem só aumenta a repressão ao prazer feminino. Muitas mulheres têm vergonha de sequer acessar um site pornô e muitas que acessam, não voltam, já que o conteúdo disponibilizado por lá é, na maioria das vezes, humilhante e degradante para a mulher. Se você já acessou, você sabe do que eu tô falando.
Assim como a mudança de pensamento da sociedade com relação ao prazer feminino, essa mudança da indústria pornô sobre a necessidade de um estímulo visual focado na mulher também é algo muito difícil de ser mudado. São tabus que existem há tantos anos e que, da mesma forma, levarão muitos anos para serem desfeitos. Mas já existe uma movimentação relacionada a isso, feita, é claro, por mulheres.
Existem sites pornôs com conteúdos criados especialmente para mulheres, (alguns até feitos por uma equipe apenas de mulheres) hétero ou lésbicas, onde a mulher não é colocada como apenas um ser submisso, mas sim alguém que, assim como o homem, gosta de sexo, gosta de estímulos visuais e está em busca do próprio prazer. Vale a pena dar uma pesquisada no assunto para que você, mulher, possa assistir sozinha ou até mesmo com seu parceiro ou parceira. A mudança vem aos poucos, como já falei, mas precisa começar. E ela começa em cada um de nós.
Beijos,
Bianca Mel