Sexo sem vergonha: sobre o medo de mostrar o próprio corpo

Você sente insegurança sobre seu corpo na hora do sexo? Ainda que o tema do empoderamento e da autoestima estejam cada vez mais em alta, sentir-se à vontade com as suas formas não é tão simples assim e muitas pessoas - principalmente mulheres - sentem vergonha do corpo. Essa insegurança pode acabar prejudicando muitos aspectos da vida, incluindo na hora de se relacionar com alguém — e ainda mais quando é de forma mais íntima, como no sexo.

E será que é possível superar isso? Como não deixar essa vergonha do corpo te atrapalhar ao começar um relacionamento novo ou até mesmo na "hora H" com o parceiro ou parceira? Vem comigo que hoje o papo é sobre isso! E o primeiro passo é entender as razões pelas quais isso acontece.

Hoje em dia muitas pessoas são insatisfeitas e inseguras sobre sua imagem corporal. Elas se olham no espelho e não gostam do que enxergam. Acham que precisam sempre estar melhorando e usam muitos filtros em redes sociais, por exemplo, numa tentativa de alterar a percepção que elas têm de si mesmas. Assim, quando um encontro ocorre na vida real, toda essa questão da insegurança vem à tona e acaba levando a certa dificuldade para tirar a roupa na frente do parceiro ou da parceira, já que na vida real ela não pode recorrer aos filtros de fotos...

Então, esse talvez seja o principal motivo dessa vergonha: a idealização da imagem corporal e os padrões de beleza que são impostos, em grande parte, pela TV, redes sociais e revistas. Por exemplo, se espera que toda mulher seja magra, alta - ou seja"sarada" - e tenha determinado tipo de cabelo. Isso tudo exerce um enorme poder sobre a autoestima da pessoa e, assim, interferem na hora da relação sexual. 

Mas não para por aí. As inseguranças que a pornografia traz tanto para homens como para mulheres também estão relacionadas à performance que esse conteúdo dissemina. Os padrões inalcançáveis tanto físicos como de "performance" (duração da transa, posições impossíveis ou desconfortáveis, gemidos excessivos ou pouco naturais), são algumas das exigências que vemos nos filmes adultos e que se somam a uma estética que também não condiz com a realidade.

Falando sobre os filtros, acho que esse é um assunto muito atual e que podemos ir um pouco mais a fundo. Como já falei, essa insegurança em relação ao próprio corpo também está associada com os recursos e uso exagerado dos filtros disponibilizados pelas redes sociais, sendo que na vida real, todo mundo sabe que não é possível contar com eles o tempo inteiro. 

Pras meninas mais jovens, que estão em uma fase de mudança do seu corpo, já são muito comuns todas essas dificuldades relacionadas à autoestima - e que são normais nessa fase da vida. Sentir-se infeliz, insegura e não gostar de si mesma pode acabar interferindo naquele momento especial em que ela vai encontrar com o seu parceiro ou parceira. 

Por isso, é importante entender todo esse movimento, porque ele é capaz de impactar tanto o bem-estar, como a vida emocional e sexual das meninas - até porque, são os adolescentes os que mais têm contato com esse tipo de filtros de rede social, atualmente. E isso tudo faz com que seja fundamental tentar trabalhar um pouco esse modelo idealizado de corpo e entender que as pessoas são diferentes. 

Já começo falando que não é um truque de mágica. Inclusive, além de não ser um passe de mágica, as experiências de autodescoberta são, muitas vezes, física e psicologicamente dolorosas. 

Um passo importante para perder a vergonha do corpo é se conectar consigo mesma e entender a dimensão cíclica da própria sexualidade, percebendo as alterações, potências e preferências do corpo e da mente ao longo de todo o ciclo menstrual. O autoconhecimento e o autocuidado são chaves para o processo, mas exige das mulheres um entendimento mais amplo e profundo do contexto coletivo em que ela se encontra.

Diante de tantos obstáculos e impeditivos, como se sentir melhor consigo mesma? A sexualidade vista por um olhar mais positivo coloca o autoconhecimento em um patamar poderoso, mas ainda há muito mais a ser feito. E o primeiro passo é agradecer às mulheres que nos trouxeram até aqui. Agradecer pela oportunidade de podermos reconstruir uma nova narrativa sobre nós mesmas.

No caso das mulheres negras, em particular, esses padrões são ainda mais distantes de suas realidades. Assim, a sociedade vai criando uma expectativa em volta dessas mulheres que nunca poderá ser alcançada.

Há também a importância de construir coletivamente um olhar diferente dos corpos e da sexualidade da mulher. Sem isso, a responsabilidade torna-se individual para cada mulher, o que pode acabar sendo até mesmo nocivo. Estar à vontade com a sexualidade é também se situar no tempo espaço. Isso faz a gente se entender. E é assim que a liberdade sexual deve ser construída: coletivamente e aplicada intimamente.

Você sente que isso tudo ainda é difícil demais pra você? Não se culpe. Vencer as inseguranças e trabalhar a autoestima são passos importantes para sua vida e também pra vida a dois. E isso não precisa acontecer de uma hora pra outra. É um processo - e que pode ser muito lento, de pessoa pra pessoa. A partir do momento que se vai ganhando mais intimidade com o parceiro ou parceira, é natural que essas inseguranças sejam melhor resolvidas. 

Agora, se estiver muito complicado ficar à vontade na frente do outro mesmo com intimidade, a recomendação é conversar e dividir essas dificuldades pra que o parceiro, ou parceira, possa ajudar nesse momento. E se, mesmo assim, ainda for difícil lidar com essa questão, busque auxílio profissional! Fazer terapia pra tentar trabalhar melhor a imagem corporal, as inseguranças e autoestima pode ser uma boa opção e é algo totalmente normal!

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Espero que depois desse texto você (principalmente você, mulher) esteja se sentindo um pouco mais abraçada e acolhida ao saber que suas preocupações não são apenas suas e que elas são totalmente normais e naturais. E espero, também, que esse texto ajude você a refletir sobre elas e buscar maneiras de curá-las, ainda que pouco a pouco. Conte comigo pra isso, ok?